Como se suspeita do câncer de tiróide?
O câncer de tiróide surge com o diagnóstico de um ou mais nódulos na glândula, habitualmente sem sintomas clínicos. Os testes de laboratório (função tiroideana) geralmente são normais e não auxiliam no diagnóstico. A palpação da tiróide pelo seu médico é a melhor maneira de diagnosticar, mas muitas vezes, os nódulos tireoidianos são descobertos incidentalmente em exames de imagem, como tomografia computadorizada e ultrassonografia do pescoço, feitos com outra finalidade diagnóstica. Também, os próprios pacientes podem encontrar nódulos na tiróide através do autoexame.

Tenho um nódulo de tiróide, e agora?
Uma vez havendo a suspeita de um ou mais nódulos tiroideanos, seu endocrinologista irá confirmar sua presença com exames mais especializados, tais como a ultrassonografia de tiróide. De acordo com alguns critérios ultrassográficos, um nódulo pode ser caracterizado como suspeito. Neste caso, será necessária a punção por agulha fina do nódulo, para elucidação diagnóstica. Importante lembrar que o diagnóstico de malignidade não pode ser dado baseado apenas em critérios ultrassonográficos. A boa notícia é a de que, nódulos na tiróide são bastante comuns e, felizmente, a maioria (entre 90% e 95%) é benigno.

E é comum o câncer de tiróide?
O câncer de tiróide ainda é menos prevalente quando comparado a outros tipos de câncer. Nos Estados Unidos, em 2010, um número estimado de 45 mil pacientes foi diagnosticado com câncer de tiróide. Em comparação, mais de 200.000 pacientes foram diagnosticados com câncer de mama e 140 mil pacientes com câncer de cólon (intestino).

Recentemente o diagnóstico de novos casos de câncer de tiróide vem aumentando rapidamente, até em maior velocidade do que para outros tipos de câncer. A razão para isto ainda não está totalmente esclarecida. Acredita-se que um dos fatores esteja relacionado a uma maior rotina de palpação cervical, da solicitação dos exames de função da tiróide e de ultrassom.

No Brasil, as estatísticas mostram que também estamos diagnosticando mais. O número de diagnósticos novos já é três vezes maior do que em 1990. Com 10 mil novos casos por ano, são estimados cerca de 8 mil novos casos em 2014. O câncer na tiróide é de 4 a 5 vezes mais comum em mulheres e o 5º mais comum nas mulheres brasileiras. Embora seja mais frequente entre as mulheres, não é exclusivo delas.

O que causa o câncer de tiróide?
Na maioria dos casos não sabemos a causa específica, mas devemos ficar atentos em duas populações de pacientes:

  1. àqueles que foram expostos a altas doses de radiação,
  2. àqueles têm uma história familiar de câncer de tiróide, e estão com mais de 40 anos de idade.

No primeiro grupo, a exposição à radiação de altas doses, especialmente durante a infância, aumenta o risco de desenvolver câncer de tiróide em pacientes suscetíveis. Pacientes tratados para outros tipos de câncer, que necessitaram de radioterapia, que incluíram a exposição da região da cabeça e pescoço e da parte superior do tórax, como por exemplo em tratamentos de câncer de mama avançados e doença de Hodgkin (câncer dos gânglios linfáticos), tem um risco aumentado de desenvolver câncer de tiróide.

O câncer de tiróide também pode ser causado por desastres nucleares, quando ocorre a liberação de altíssimas doses de iodo radioativo para o meio ambiente. São conhecidos os casos do acidente nuclear na usina de Chernobyl em 1986, na Rússia e o recente desastre nuclear de 2011 em Fukushima, no Japão. Neste último desastre, em agosto de 2014, já foram diagnosticados 104 casos de crianças com câncer de tiróide.

A exposição aos raios-X de rotina, tais como raios-X dentários, radiografia de tórax e mamografia não causam câncer de tiróide.

No segundo grupo, a hereditariedade, embora não determinante, deve ser melhor observada naqueles familiares diagnosticados como portadores de Carcinoma Papilífero e Carcinoma Medular de Tiróide.

Quais são os sintomas do câncer de tiróide?
Raramente, o câncer de tiróide é sintomático. Nos casos mais avançados, o paciente pode queixar-se de dores no pescoço, na mandíbula, ou na orelha. Se um nódulo é grande o suficiente para comprimir a traqueia e o esôfago, pode dificultar a respiração, deglutição, ou causar "cócegas ou desconforto na garganta". Mesmo com menor frequência, a rouquidão pode aparecer se o câncer invadir o nervo que controla as cordas vocais. É importante lembrar que: o câncer de tiróide geralmente não vem acompanhado de sintomas, os testes de função tiroideana são tipicamente normais, mesmo quando o câncer está presente, e a melhor maneira de encontrar um nódulo de tiróide é certificar-se o seu médico faça a palpação do seu pescoço!

Como se diagnostica o câncer da tiróide?
O diagnóstico leva em conta os achados no exame clínico de palpação da glândula e a presença de gânglios linfáticos aumentados. Exames de imagem como a ultrassonografia, a tomografia computadorizada e a ressonância magnética são também recursos úteis para o diagnóstico, em nódulos de difícil palpação. Entretanto, o recurso diagnóstico mais importante, é a biopsia de aspiração por agulha fina que identifica a presença ou não de células tumorais malignas.

Quais são os tipos de câncer de tiróide?
Diferentes tipos de células da tiróide dão origem aos seus diferentes tipos de câncer, assim determinando a gravidade da doença e o tipo do tratamento. São quatro os tipos principais conhecidos: o papilífero, o folicular, o medular e o anaplásico.

Papilífero: É o tipo mais comum e responsável por cerca de 80% de todos os cânceres de tiróide. Ocorrem em qualquer idade, crescem lentamente, tendem a ser mais localizados e com maior chance de cura. Sua metástase mais frequente é para os gânglios linfáticos no pescoço, mas ainda assim o seu prognóstico é muito bom.

Folicular: Representa cerca de 10% de todos os cânceres da tiróide, mas sua incidência vem decrescendo ao longo dos anos. Tende a ocorrer em pacientes um pouco mais velhos. Tal como acontece com o papilífero, o carcinoma folicular primeiro pode se espalhar para os gânglios linfáticos no pescoço. Também pode invadir os vasos sanguíneos e assim se espalhar para áreas distantes, principalmente para os pulmões e ossos. Seu prognóstico é levemente pior do que o do carcinoma papilífero, mas a doença costuma reagir bem ao tratamento.

Medular: O câncer medular de tiróide, responde por 5% a 10% de todos os cânceres de tiróide e deriva das células C, produtoras de calcitonina. Tem características específicas como alta incidência de metástases nos gânglios do pescoço e grau intermediário de malignidade, entre o carcinoma anaplásico e o carcinoma papilífero. Pode ocorrer de maneira esporádica (75 a 90%), ou sob a forma familiar (10 a 25%), com herança autossômica dominante. Nas formas familiares, associam-se outros problemas endócrinos, o que deverá ser melhor explorado pelo endocrinologista. Em membros da família de uma pessoa afetada, um teste para uma mutação genética no proto-oncogene RET pode levar a um diagnóstico precoce do câncer medular de tiróide e, posteriormente, a cirurgia curativa para removê-lo.

Anaplásico: É o câncer de tiróide mais avançado e agressivo e o que responde menos ao tratamento. Felizmente, este câncer é raro e encontrado em menos de 2% dos pacientes com câncer de tiróide.

Como se trata o câncer de tiróide?
Em geral, o tratamento primário do câncer de tiróide é cirúrgico (tiroidectomia total ou parcial/lobectomia) e leva em conta o tipo e a gravidade da doença. Caso as células malignas tenham comprometido os gânglios cervicais, será necessário retirá-los. Muitas vezes, o câncer de tiróide pode ser curado apenas com a cirurgia, especialmente se o câncer for pequeno, se for papilífero e se o diagnóstico for precoce.

De acordo com os dados clínicos, cirúrgico e o resultado anatomo-patológico, seu endocrinologista pode lhe classificar como tendo risco elevado para recorrência. Neste caso, e se o câncer for do tipo papilífero ou folicular, o iodo radioativo pode ser usado para destruir qualquer célula cancerosa remanescente após a remoção da glândula.

Após esses tratamentos, o paciente será iniciado em terapia com hormônio tiroidiano, que serve não só para reposição hormonal, mas também para suprimir o TSH (terapia supressiva) e assim evitar a recidiva do tumor.

A cirurgia e iodo radioativo permanecem o padrão ouro no tratamento do câncer de tiróide. Entretanto, alguns tumores mais avançados, perdem esta capacidade de captar e reter o iodoradioativo, um processo chamado de desdiferenciação tumoral. Nestes casos, a radioterapia convencional pode ser indicada, direcionando com precisão raios-x para áreas que podem ser tratadas, na tentativa de matar ou de reduzir o crescimento de tumores específicos.

Em casos selecionados, em que o câncer deixou de captar o iodoradioativo e se espalhou de forma mais ampla, comprometendo a sobrevida do paciente, novos agentes quimioterápicos estão cada vez mais disponíveis para o tratamento. Estes medicamentos raramente promovem a cura do câncer avançado, mas podem diminuir ou inverter parcialmente o crescimento do câncer. Seu Endocrinologista avaliará, com bom senso, o momento ideal para se iniciar este tipo de tratamento.

Como se faz o acompanhamento de pacientes com câncer de tiróide?
Por ser um câncer indolente e de crescimento lento, os pacientes com câncer de tiróide devem ser acompanhados por muitos anos, mesmo após o sucesso inicial do tratamento.

As visitas de acompanhamento devem dar atenção especial ao exame da região cervical, na tentativa de detectar precocemente gânglios suspeitos no pescoço.
O ultrassom da região cervical é também é uma ferramenta fundamental para visualizar o interior do pescoço e identificar tecido residual ou gânglios linfáticos suspeitos e deve ser feito com frequência, principalmente nos primeiros cinco anos após o diagnóstico.

No acompanhamento do paciente com câncer de tiróide (papilífero e folicular), os exames laboratoriais ganham importância, principalmente a dosagem da tireoglobulina e a do TSH no sangue. Após a tiroidectomia e ablação com iodo radioativo, os níveis de tireoglobulina devem aparecer sempre indetectáveis. A tireoglobulina é um marcador importante de recidiva e quando positiva, indica presença de células tiroideanas ou câncer residual. Já a dosagem do TSH no sangue indica se a dose de levotiroxina usada para a reposição ou supressão hormonal está adequada. A dose de levotiroxina será determinada pelo seu endocrinologista, de acordo com o tipo, a extensão do câncer e o risco de recorrência. Nos casos de câncer medular de tiróide, o acompanhamento com as dosagem de Calcitonina e CEA são fundamentais.

Também, de acordo com o risco de recorrência do câncer e pela presença residual da tireoglobulina, seu Endocrinologista poderá lhe solicitar eventualmente, um exame denominado Pesquisa de Corpo Inteiro (ou PCI), que destina-se a localizar a presença de metástases. Nos casos mais avançados, quando o tumor já perdeu a capacidade de captar o iodo, O PET Scan (Tomografia por Emissão de Pósitrons) poderá ser solicitado para avaliar a presença de novas metástases ou para avaliar o resultado do tratamento quimioterápico.

Qual é o prognóstico de câncer de tiróide?
De um modo geral, o prognóstico de câncer de tiróide é excelente, especialmente para pacientes menores de 45 anos de idade e com tumores pequenos, diferenciados e localizados. Para os pacientes com mais de 45 anos de idade, com tumores diferenciados, maiores ou mais agressivos, o prognóstico continua ainda sendo bom, porém com maior risco de recorrência. O prognóstico é pior para aqueles pacientes cujo câncer não pôde ser completamente removido pela cirurgia ou naqueles tumores que não respondem ao tratamento com iodoradioativo. Felizmente, esses pacientes muitas vezes são capazes de viver durante muito tempo, com qualidade de vida, apesar do fato de ainda portarem o câncer.

É importante conversar com seu médico sobre o perfil do câncer de tiróide que foi diagnosticado e sobre o prognóstico esperado. Será necessário compreender, que haverá uma longa monitorização para detecção precoce da recidiva destes tumores ao longo da vida, mesmo depois de um tratamento inicial bem sucedido.