Frente de batalha
- Criado: 16 Julho 2020
Médicos promovem campanha pelo País para ensinar auto-exame que previ ne problemas na tireóide
Uma campanha de saúde pouco comum está sendo levada a várias regiões do Brasil. Coordenado pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), o trabalho pretende ensinar a população a verificar regularmente se está tudo em ordem com a tireóide. É uma missão importante. Afinal, a tireóide é a glândula responsável por fabricar um “combustível”, os hormônios T3 e T4, que abastece as células do nosso organismo. Se ela não estiver funcionando direito, a consequência pode ser um tumor, por exemplo. Para afastar perigos como esse, a campanha da SBEM envolve um programa de orientação que já passou por Brasília e pelos Estados de Goiás e Minas Gerais. A entidade planeja estender essa ação, feita por voluntários, ainda este ano para Porto Alegre (RS). “Um de nossos objetivos é mostrar à população como identificar problemas na tireóide. Algumas vezes, eles aparecem na forma de nódulos ou inchaço na região do pescoço”, diz a médica Valéria Guimarães, presidente da SBEM da regional do Distrito Federal. A estratégia é orientar as pessoas a fazer o auto-exame.
Consultar um endocrinologista é também uma boa medida para descobrir a presença de caroços e detectar novos problemas na glândula. A prefeita Marta Suplicy, de São Paulo, sabe disso. Há menos de um mês, um especialista notou que ela estava com nódulos na garganta. Publicamente, não se fala a possível razão desses caroços. Em todo caso, uma das causas pode ser a Tireoidite de Hashimoto, doença auto-imune que faz o corpo atacar a glândula por reconhecê-la como um órgão estranho.
Exames preliminares não conseguiram mostrar se os nódulos encontrados eram malignos. Quando os caroços são benignos, eles podem ser tratados, em alguns casos, com medicamento específico. Sem ter certeza da malignidade, os médicos decidiram operar a prefeita. “A solução foi retirá-los por meio de uma cirurgia para analisá-los em laboratório”, afirma Antônio Chacra, endrocrinologista de São Paulo.
Na semana passada, Marta passou pela operação. Descobriu-se, então, que os nódulos eram benignos, como costuma acontecer em 95% das vezes. O caso da prefeita chamou a atenção da sociedade para esse problema, mais comum em mulheres. O mal atinge cerca de 10% da população feminina com idade superior a 40 anos, mas esse índice chega a 20% entre aquelas com mais de 60.
O problema, na verdade, começa a ser deflagrado antes. A tireóide é sensível às alterações hormonais da mulher, como as da adolescência e da gravidez. Isso prejudica o funcionamento da glândula a longo prazo. “Com o tempo, os nódulos vão se desenvolvendo e aparecem na menopausa”, diz o otorrinolaringologista Luiz Paulo Kowalski, especialista em cirurgia de cabeça e pescoço do Hospital do Câncer, em São Paulo. É por isso que os especialistas são mais rígidos com relação às mulheres com mais de 40. “Além de fazer o auto-exame, elas precisam ir ao médico para ter segurança de que a tireóide está bem”, reforça o otorrinolaringologista Onivaldo Cervantes, da Universidade Federal de São Paulo.
Quando surgem nódulos, é comum as pacientes ganharem peso. Isso porque a glândula não consegue realizar o metabolismo (processo bioquímico que transforma os alimentos em energia para o corpo). A gordura se acumula e a pessoa incha. Mas, às vezes, não aparecem sintomas. Foi o que aconteceu com a dona-de-casa paulista Isabel dos Santos, 47 anos. Há cinco anos, ela descobriu um nódulo ao ver no espelho que seu pescoço estava inchado. Isabel procurou um especialista e foi operada. “Estou bem e visito anualmente o médico”, conta. Felizmente, seu problema não era perigoso. Há casos raros em que pode aparecer um tumor. “A ocorrência de células cancerígenas nessa região é remota”, diz Linneu Silveira, endocrinologista de São Paulo. Nessa situação, retira-se toda a glândula e o paciente precisa repor os hormônios T3 e T4.
Também há outros problemas relacionados à tireóide que podem causar nódulos. Os mais frequentes são o hipertireoidismo e o hipotireoidismo, comuns em várias faixas etárias. No primeiro caso, ele pode ser provocado pela doença de Graves, que prejudica o funcionamento da glândula. O mal é caracterizado pelo excesso de produção dos hormônios T3 e T4. Essa sobrecarga acelera o metabolismo e faz a pessoa perder peso rapidamente. O tratamento é feito com remédios que controlam a superprodução de hormônios. Se a glândula não produz tanto hormônio, ocorre o hipotireoidismo. Ele pode ser causado pela Tireoidite de Hashimoto e levar às mesmas consequências dos nódulos (como aumento de peso). A terapia requer reposição hormonal. Como dá para perceber, é melhor estar atento à saúde da glândula para evitar perigos no futuro.
Fonte: http://www.istoe.com.br/reportagens/38136_FRENTE+DE+BATALHA