Ao misturar concreto e fé, candangos transformaram terra vermelha em capital. Das mãos vindas de todo o Brasil, nasceu a cidade de curvas modernas, cheia de peculiaridades: quadras que parecem se repetir ao respeitar um modelo, tesourinhas que confudem até hoje forasteiros, espaços cheios de vazios, aos poucos preenchidos pelo maior patrimônio de Brasília: o brasiliense.

A cidade-utopia apressou-se em dar frutos. A primogênita de Brasília tem hoje 52 anos, seis meses e alguns dias. Mesma idade da capital. A primeira criança nascida na cidade já oficialmente inaugurada foi uma menina, veio ao mundo em 21 de abril de 1960, às 6h15, e ganhou o nome de Brasília. De lá para cá, vieram milhões. Entre os 2.648.532 moradores do Distrito Federal, quem nasceu nessa terra já é maioria, de acordo com o último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado em maio. Os brasilienses somam 53,8% da população. Essa virada coincide com a chegada da primeira geração a cargos importantes. Destacam-se nas artes, na política, no Poder Judiciário, nos organismos internacionais, na medicina, nos cargos executivos. São reconhecidos como referência da Brasília que deu certo e ganhou maturidade.

A geração dos nascidos nas décadas de 1960 e 1970 chega ao topo, levando com ela um pouco das cores da capital, da resistência adquirida a partir da convivência com a seca e com o encantamento pelo lugar onde vive. O brasiliense orgulha-se de carregar em si um pouco da cidade feita de sonho e suor. Esforço e capacidade são as marcas em comum das carreiras dos personagens desta reportagem. Seis homens e mulheres nascidos em solo candango que conquistaram seu espaço na sociedade ao unir fatores como: boa educação, talento e as influências de crescer numa cidade em busca de identidade e evolução.

Valéria Guimarães disputa o cargo de vice-presidente na Sociedade Americana de Endocrinologia: referência em sua especialidade

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Voltar pra casa é melhor

A vontade de desbravar o mundo levou Valéria Guimarães a outros países. Mas, segundo ela, viajar é bom e voltar para casa é melhor ainda. “Brasília é sinônimo de lar”, diz. Por isso, ela fixou raízes e tornou-se, aos 48 anos, uma das endocrinologistas mais respeitadas da capital.

Como muitos de seus tios, Valéria decidiu ser médica. “Fui atraída pela possibilidade de mudar para melhor os rumos da vida de alguém. É uma capacidade que somente os médicos e os políticos têm”, justifica. Gostar de estudar foi fundamental para construir uma sólida trajetória de sucesso. O amor pelos livros aprimorou-se no colégio Marista, onde cursou o ensino médio, e durante a faculdade de medicina, em Minas Gerais. Depois de fazer residência no Hospital das Clínicas, em São Paulo, ela e o marido, também médico, mudaram-se para os Estados Unidos. Na Universidade de Chicago, ela concluiu doutorado em endocrinologia. O primeiro filho do casal nasceu nos Estados Unidos. Os outros dois são brasilienses.

A experiência de ter inúmeros artigos publicados e de se tornar respeitada em um meio competitivo abriu as portas para que ela conquistasse uma vaga na Sociedade Americana de Endocrinologia, a principal entidade da categoria no mundo; Valéria foi a primeira brasileira aprovada para fazer parte do conselho que administra a sociedade. Há cinco anos, recebeu indicação para ser presidente da entidade e não venceu por poucos votos. “Com essa abertura, levei outros colegas para a sociedade e demos visibilidade ao Brasil”, orgulha-se. Em setembro, recebeu convite para disputar a vice-presidência da entidade, o resultado sairá em março de 2013.

Valéria é a autora de um dos capítulos do livro Endocrinology, considerado a “bíblia” dessa especialidade. Presidiu a Sociedade Brasiliense de Endocrinologia e a Sociedade Brasileira de Endocrinologia, além de ser uma das principais incentivadoras da campanha nacional pelo autoexame da tireoide. Em seu consultório, ela atende sete pacientes por dia. Sua especialidade é tratar câncer na tireoide. “Cada consulta dura até 2h30. Não abro mão. Faço parte de sociedades e tenho prazer em ensinar voluntariamente a outros colegas, mas cuidar do paciente é o que mais amo”, afirma.

Fonte: Encontro